light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, August 8, 2017

para o m.

que nem costumo dar o endereço deste lugar, mas foi troca por troca e um reconhecimento curioso. as pessoas das palavras são sempre perigosas porque pegam nas nossas e as cozinham de outro modo, com novas combinações e invenções. quem sabe onde vão parar o marujo, as mãos e a gentileza.


gosto de Matosinhos e da rua principal. as casas são sui generis e o ambiente também. o junto ao mar já é outra coisa, com os passeios largos e os apartamentos de enormes varandas. nas ruas interiores passeia quem não se ausenta durante a semana. a recente transformação do mercado atrai alguns turistas, esta gente que se espalha agora por toda a parte como uma erva daninha, dizem uns. ninguém gostava, ninguém recuperava. quando os outros querem, todos querem também. não é novo. gosto de forasteiros.

noutra ocasião e à saída do mesmo porto estavam dois asiáticos que julguei na altura serem filipinos. precisaram de mostrar uma batelada de papéis e autorizações para sair da zona portuária, talvez mais para entrar se calhasse mudar o turno do securitas de serviço. depois de muita conversa de surdos, e de um receio latente que lhes senti, diluíram-se como eu nas ruas de Matosinhos a olhar para as montras e a falar, embora pouco, entre si. naquele momento, o da dissolução, tinham desaparecido, como se costuma dizer, por entre a multidão embora não existisse multidão. esse é o efeito dos navios nos marujos. sobem a escada do portaló e logo adquirem uma identidade única, um lugar de origem, manias e famílias, necessidades, preferências e manias. alcunhas. sair desse lugar ao mesmo tempo desabrigado e fechado implica perdas imprevistas. um dia revejo o Conrad deste ponto de vista, mas não precisaria de ir mais longe: a abertura do Heart of Darkness já diz tudo. é o apelo do mar e o desejo de terra.

e aqui está. estender a mão gentilmente mas baixando a cortina.

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